ATA DA CENTÉSIMA SEXAGÉSIMA NONA SESSÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 21.11.91

 


Aos vinte e um dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Centésima Sexagésima Nona Sessão Ordinária da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou que fossem distribuídas em avulsos cópias das Atas da Centésima Sexagésima Oitava Sessão Ordinária, Declaratória da Décima Quarta Sessão Extraordinária e da Ata da Décima Quinta Sessão Extraordinária, que deixaram de ser votadas face à inexistência de "quorum" deliberativo. À MESA, foram encaminhados: pelo Vereador Luiz Negrinho, 01 Projeto de Lei do Legislativo de nº 250/91 (Processo nº 2852/91) e 17 Pedidos de Providências; pelo Vereador Isaac Ainhorn, 01 Projeto de Resolução de nº 53/91 (Processo nº 2959/91), 03 Pedidos de Providências e 01 Indicação. A seguir, o Senhor Presidente solicitou ao Senhor Secretário que apregoasse o Ofício nº 615/GP, do Senhor Prefeito Municipal. Do EXPEDIENTE constaram: o Ofício nº 213/91, da UVERGS - União dos Vereadores do Rio Grande do Sul; e o Ofício-Circular nº 51/91, também da UVERGS - União dos Vereadores do Rio Grande do Sul. Em continuidade, o Senhor Presidente registrou que a Casa recebia a visita dos Senhores Jorge Bolaños, Embaixador da República de Cuba no Brasil, e Guilherme Takeda, Presidente da Associação Cultural José Marti, e os saudou, concedendo a palavra ao Senhor Jorge Bolaños, que reportou-se à Revolução Cubana, deu conta de avanços culturais e sociais proporcionados ao povo cubano e mencionou o bloqueio econômico a que é submetido aquele País. A seguir, o Senhor Presidente deu conta ao Senhor Embaixador de Cuba no Brasil que tramita na Casa proposição de Moção de Solidariedade ao povo e ao governo de Cuba devido ao bloqueio econômico promovido pelo governo norte-americano. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra às lideranças de bancadas para que saudassem os senhores visitantes. O Vereador Omar Ferri, em nome da Bancada do PDT, discursou a respeito das demarches políticas no destino de países, em particular no do Brasil, e a influência econômica de outros países nesse sentido, classificou como confortante o exemplo cubano de soberania nacional, augurando que os ventos da liberdade tornem a soprar a favor daquela nação. O Vereador Airto Ferronato, em nome da Bancada do PMDB, cotejou as situações conjunturais de países da América Latina, advertiu sobre a situação do Brasil nesse contexto e a relação internacional com países desenvolvidos. Louvou o exemplo cubano e saudou o Senhor Embaixador desse País, presente no Plenário. O Vereador Clóvis Ilgenfritz, em nome da Bancada do PT, saudou o Senhor Embaixador de Cuba no Brasil, deu conta do acompanhamento pessoal de fatos históricos daquele País, destacando o ideal libertário da nação. E, manifestando sua crença na continuidade da autodeterminação do povo cubano, solidarizou-se com a luta travada para a manutenção dessa conquista. O Vereador João Dib, em nome da Bancada do PDS, manifestando seu orgulho de ser brasileiro, expressou seu respeito ao povo cubano e, augurando que Cuba continue a favorecer seu povo com educação e saúde, saudou o Senhor Embaixador desse País. E o Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, analisando o processo político cubano e partir de sua Revolução, solidarizou-se com aquele País face a bloqueio econômico que tem sofrido e manifestou acreditar na superação dessa situação. Em prosseguimento, o Senhor Presidente ofertou lembrança da Casa ao Senhor Embaixador de Cuba no Brasil, agradeceu pelo comparecimento dessa Autoridade e suspendeu os trabalhos da Sessão para apresentação de despedidas. Reabertos os trabalhos, o Senhor Presidente solicitou ao Senhor Secretário que apregoasse Requerimento, do Vereador José Valdir, solicitando Renovação de Votação do Projeto de Lei do Legislativo nº 198/91. Após, o Senhor Presidente registrou que comparecia à Casa o Senhor João Verle, Secretário Municipal da Fazenda, a fim de prestar esclarecimentos sobre a proposta de reajuste do IPTU para o exercício de 1992, a Requerimento de autoria do Vereador Isaac Ainhorn, conforme consta do Processo nº 2566/91. Na oportunidade, o Senhor Presidente respondeu Questões de Ordem formuladas pelos Vereadores Isaac Ainhorn, sobre a possibilidade de transferência de data da oitiva do Senhor Secretário Municipal da Fazenda e sobre resposta por escrito dos quesitos formulados; José Valdir, sobre a substituição de Vereadores em Representação; Edi Morelli, a respeito da maneira da indicação de Vereador para Representação; e João Dib, sobre a remessa, pelo Senhor Secretário da Fazenda, de guias do IPTU aos Senhores Vereadores, e sobre a indicação do Vereador Antonio Losada para compor Representação. Às quinze horas e quarenta e quatro minutos, constatada a inexistência de "quorum" para a continuidade dos trabalhos da Sessão, o Senhor Presidente, convidando os Senhores Vereadores para Sessão Solene, a seguir, e os convocando para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, levantou os trabalhos. Durante a Sessão, os trabalhos estiveram suspensos por dois minutos. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Antonio Hohlfeldt e secretariados pelos Vereadores Clóvis Ilgenfritz e Airto Ferronato, o último como Secretário "ad hoc". Do que eu, Clóvis Ilgenfritz, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): A Casa recebe na tarde de hoje a visita do Exmo Sr. Embaixador da República de Cuba, companheiro Jorge Bolaños, que visita o Estado do Rio Grande do Sul, hoje pela manhã teve audiência com o Sr. Governador do Estado, estará em contato com o Sr. Prefeito Municipal pela tarde, já fez igualmente contato com a Assembléia Legislativa hoje, pela manhã, e sobretudo participa da inauguração da Escola Municipal Ernesto “Che” Guevara e do Centro Municipal de Saúde José Martí, no nosso vizinho Município de Gravataí; fazendo ao mesmo tempo uma série de contatos políticos e também econômico-financeiros, com industriais do Rio Grande do Sul, visando uma integração maior da economia do nosso Estado, em conseqüência da economia brasileira com a economia cubana. Todos nós sabemos, independentemente da nossa maior ou menor simpatia pelo Governo Cubano, da importância que tem Cuba na história da América Latina e muito especialmente do símbolo que é o País, o seu povo, seu Governo em relação à resistência, a um processo crescente de cerceamento internacional que viola, inclusive, as regras básicas do comércio internacional. Regras, inclusive, que têm sido permanentemente desrespeitadas por parte sobretudo do governo norte-americano, em relação ao comércio internacional de tal maneira que, realmente, se tenta impossibilitar a sobrevivência, o respeito, a dignidade que deveríamos ter em relação exatamente àquela Ilha, para não falar na histórica e permanente agressão da Base de Guantánamo, em território cubano. Quero expressar a V. Exª a minha solidariedade em nome da Casa e deste Legislativo para lhe dar as boas-vindas da Cidade de Porto Alegre, e convidá-lo a usar a palavra da tribuna dirigindo-se aos nossos Vereadores.

Com a palavra o Sr. Jorge Bolaños.

 

O SR. JORGE BOLAÑOS: Obrigado honrado e amigo Presidente, muito obrigado Srs. Vereadores, que fazem o possível para que eu possa estar aqui com vocês, visitar esta honrada Casa, e falar com pouco tempo, mas com o necessário para não interromper suas importantes tarefas. Eu sou filho de um país pequeno, um dos países mais pequenos da América Latina, que em 1959, teve a ousadia de fazer uma Revolução, derrubar uma Ditadura registrada nos Anais da História da America Latina como a mais cruel ditadura junto à ditadura do índio na República Dominicana, que conheceu o continente latino americano que cometeu um grande pecado. O pecado de fazer, de acreditar nesse aforismo de Abraão Lincoln, de fazer um governo do povo para o povo, e pelo povo, isto significa honrados Vereadores, fazer um governo voltado para a maioria da população de Cuba. A partir desse momento, Cuba deixou de ser cordeiro e transformou-se em lobo, e o país vizinho poderoso, grande, converteu-se em cordeiro. Nós, depois de 30 anos de Revolução, depois de haver liquidado o analfabetismo, depois de haver dado emprego para toda a população cubana, depois de haver dado saúde para toda a população cubana, depois de dar soberania para a população cubana, depois de dar dignidade para a sociedade cubana, depois de colocar Cuba num lugar dentro do cenário mundial, ainda vivemos lutando por preservar nossas conquistas populares, por preservar nossa independência, por preservar nossa dignidade, por preservar nossa soberania. Nós que levamos 32 anos, vivendo em condições muito dificeis, ainda assim conseguindo êxitos. Êxitos que estão vigentes, êxitos que nunca guardamos para nós, sempre colocamos à disposição de outros povos. Neste momento devo dizer que Cuba atravessa uma situação muito difícil, nós estamos bloqueados por um país muito poderoso, mais poderoso do mundo, em condições internacionais muito difíceis, não existe uma correlação de força, de equilíbrio, existe só uma vontade mundial hegemônica, cujo maior objetivo neste momento é acabar com a Revolução. Faz apenas duas semanas o Congresso deste País aprovou leis para endurecer ainda mais o bloqueio econômico contra Cuba. Para colocar um simples exemplo, navios que levem mercadorias à Cuba, incluindo alimentos, ou navios que levem mercadorias de Cuba, incluindo o lucro de exportação até outros países, estão proibidos de chegar a portos neste país vizinho, sob pena de ficarem embargados. Com esta medida se tenta render o nosso povo pela fome. Na prática significa que agora Cuba tem poucas possibilidades de exportar suas mercadorias e poucas possibilidades de trazer os alimentos que precisa para nosso país, porque logicamente o armador que tem um barco prefere não correr o risco de ver seu barco embargado no porto deste país. Outros casos, têm armadores que decidem correr o risco e cobram uma sobretaxa de risco que às vezes chega a 100%, e em ocasiões o que temos que pagar por esse transporte de medicamentos é mais caro que a carga que o barco leva. Há dois ou três anos o bloqueio econômico era 80% equacionado pela ajuda do câmbio socialista, pelo comércio que desenvolvíamos com a União Soviética. Hoje, o campo socialista sumiu. A União Soviética debate o seu próprio destino, com problemas internos muito sérios. E existe uma vontade evidente - sou testemunha disso - do Governo Soviético em cumprir seus compromissos com Cuba, mas tem dificuldades. Pela primeira vez nós somos credores da União Soviética. Estamos entregando, no ano presente, mais mercadorias do que temos recebido. Mas essa não é uma situação confortável para a economia cubana, para a sociedade cubana. Isso cria uma situação de tensão e de uma grave crise econômica, em um país pequeno, que tem uma economia aberta, que depende 60% do comércio exterior, mas ainda assim, nestas condições, o povo cubano resiste, o povo cubano está empenhado em resistir, e não somente em resistir, mas em vencer. Temos 32 anos de Revolução, temos conseguido uma população sadia, que apóia a Revolução, capaz de contornar com seus próprios esforços, e com a solidariedade internacional, as dificuldades peremptórias, conjunturais que estamos enfrentando.

Mas o povo cubano vai vencer, porque apóia a Revolução, e apóia porque tem logros, e como tem logros sabe que, hoje, este povo vive muito melhor do que há 32 anos. Eu falava com um grupo de amigos sobre o caráter da nossa sociedade. Eu dizia: "não me falem de direito comparado"- eu fui aluno e Professar de Direito Comparado - "ou de Direito Constitucional, vamos falar da verdade, da realidade, e vamos julgar a nossa sociedade comparativamente com outras sociedades". A minha sociedade produz a vida; a outra sociedade produz a morte; a minha sociedade tem uma taxa de mortalidade de 10 crianças que morrem em cada 1.000; as outras sociedades do Terceiro Mundo têm uma taxa de mortalidade de 60 em 1.000. A minha sociedade não tem desaparecidos, não tem torturados. O índice de homicídios em minha sociedade em 1990 - e eu contava para o Secretário de Justiça - foi de cento e um homicídios para uma população de onze milhões de habitantes e os 70% foram homicídios passionais, por causa de amor - nós, cubanos, somos aficcionados pelo amor. Minha sociedade produz emprego, não desemprego; minha sociedade produz alimentos - devido às circunstâncias, minha sociedade teve que baixar a ingestão de 3.400 calorias por habitante para 2.900 calorias, o que coloca Cuba em terceiro lugar no Terceiro Mundo, isso em meio a uma crise; minha sociedade produz cultura, não analfabetismo; minha sociedade produz cientista, não operário sem possibilidade de chegar à universidade; minha sociedade garante que o talento do povo nas ruas possa chegar à universidade, adquirir cultura e colocar seu conhecimento à serviço da sociedade. Como exemplo, coloco o seguinte: eu vivi parte da minha vida no capitalismo e fui parte do capitalismo, pois não procedo da classe operária, procedo da classe média alta. Nasci numa fazenda e meus companheiros eram filhos de camponeses, de bóias-frias. Não jogávamos futebol, porque em Cuba não existe futebol, jogávamos beisebol. Éramos dezoito garotos e todos tínhamos um sonho infantil: um deles queria ser médico, outro queria ser piloto de avião, outro queria ser advogado, outro queria ser político, enfim, todos tinham uma aspiração na vida, mas desses dezoito, o único que teve a oportunidade de freqüentar uma universidade foi o filho do latifundiário: eu. E eu me pergunto: quantos talentos, quantas inteligências ficaram marginalizadas da possibilidade de ser alguém, de produzir, de contribuir para a nossa sociedade, por causa dessa sociedade injusta em que vivemos? Em Cuba, a partir da Revolução, cada menino que nasce tem garantida - se houver competência e inteligência para isso - a possibilidade de chegar a uma universidade para, com seu próprio esforço, dar a sua contribuição ao país, contribuição essa que estamos dando agora a Cuba para resolver seus problemas. De modo que quando vocês fizerem um balanço sobre qual a sociedade represento, verão que é a sociedade da vida, não da morte, do emprego, não do desemprego, é a sociedade da alimentação, não da fome, é a sociedade para um povo, por um povo e do povo, como a palavra, a acepção de democracia se define no dicionário desde as suas origens na Grécia, e na Grécia porque lá a sociedade democrática é uma sociedade escravagista, mas era uma sociedade que aspirava a servir os interesses do povo. Nessa luta estamos em condições muito difíceis, extraordinariamente difíceis, mas vamos vencer porque temos conosco o povo e o povo tem a palavra e esta palavra é vitória.

Esta é a mensagem que eu queria transmitir a V. Exas, Srs. Vereadores, que nesta tarde aqui se reúnem e me dão o privilégio de permitir que eu me dirija a V. Exas. Obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, Sr. Embaixador Jorge Bolaños, comunico a V. Exª de que está tramitando na Casa e será posteriormente votada, uma Moção de Solidariedade firmada pelo Ver. Clovis Ilgenfritz, Lider do PT; Ver. Lauro Hagemann, Líder da Bancada do PCB; Ver. Nereu D'Ávila, Líder da Bancada do PDT; Ver. Luiz Braz, Líder da Bancada do PTB; além dos Vereadores Gert Schinke, Vieira da Cunha, Airto Ferronato, que reponde pela Liderança da Bancada do PMDB; Edi Morelli, Giovani Gregol, Décio Schauren, Luiz Machado, Ervino Besson, Adroaldo Corrêa, Cyro Martini, Omar Ferri, João Bosco Vaz, Dilamar Machado, João Motta, José Valdir e deste Vereador que é integrante da Bancada do PT e, eventualmente, responde pela Presidência da Câmara, e que diz: (Lê.)

 “Moção de Solidariedade

Pela presente, os Líderes das diversas Bancadas da Câmara Municipal de Porto Alegre, e os demais Vereadores abaixo assinado, vem em presença do Exmo Sr. Jorge Alberto Bolaños, M.D. Embaixador da República de Cuba no Brasil, manifestar solidariedade ao povo e ao governo cubano que hoje enfrentam uma série de dificuldades econômicas e sociais devido ao Bloqueio Econômioo orquestrado pelo Governo Americano.

Julgamos inadmissível no quadro mundial atual, onde oportunamente as forças políticas se unem para acabar com a Guerra Fria, com as fronteiras ideológicas, onde se busca a paz e o desarmamento e o entendimento dos povos, que se utilizem as crianças e o povo cubano como reféns, e o bloqueio econômico como arma para a imposição de mudanças.

Somos signatários, como brasileiros, de compromissos internacionais que afirmam a soberania e o direito a autodeterminação dos povos, e repudiamos qualquer forma de ingerência em assuntos internos das nações.”

A Moção poderá ter a assinatura de outros Vereadores na sua tramitação pefa Casa.

De qualquer maneira forneceremos uma cópia. E V.Exª tenha ciência deste documento em tramitação na Casa.

Abrimos a palavra às lideranças para a saudação ao Embaixador de Cuba.

Registramos a presença do Sr. Guilherme Takeda, Presidente da Associação Cultural José Martí. E do companheiro Ronald Dutra, da Assessoria da Bancada do PDT na Assessoria Legislativa; de companheiros do PSB; de compaheiros da Associação Cultural José Martí.

Comunico que o Líder do PL, Ver. Wilson Santos, tem compromisso com o Comando da Brigada Militar, por isso se retira.

Com a palavra o Ver. Omar Ferri, pelo PDT.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente Antonio Hohlfeldt, Presidente desta Casa; Exmo Sr. Embaixador da República de Cuba no Brasil, Sr. Jorge Bolaños; Sr. Guilherme Takeda, da Associação dos Amigos Cuba e Brasil; Srs. Vereadores; Senhoras e Senhores.

Sr. Embaixador, estes são tempos muito dificeis. São tempos que seguem a ventania. Sou um grande adepto da filosofia da ventania. Quando a ventania sopra contra um lado, ou a favor de um lado, não há força humana capaz de impedir a inexorabilidade da força na maioria das vezes destrutiva causada pela ventania.

A América Latina e o Brasil são territórios muito suscetíveis a estas ventanias. Aqui mesmo na política brasileira houve muitas ventanias. Houve um tal de fenômeno Jânio Quadros que foi uma ventania que desabou sobre este País. E não havia naquela época força política capaz de deter a fatalidade de um homem que desfraldava bandeiras de salvação. De tempos em tempos se repete ventanias em nosso hemisfério. Agora mesmo, há questão de um ano e meio atrás correu uma ventania - essa foi um pouquinho diferente, porque era subreptícia, blandiciosa, ela era colorida, ela trombeteava aos quatro cantos desta Pátria, que o novo Presidente da República, na época candidato, resolveria todos os problemas da Nação, principalmente os problemas do povo brasileiro.

Eu lembro, falando em ventania, que outrora houve ventos e outrora sopravam os ventos da liberdade, e os ventos da liberdade foram sufocados em 1964, quando as mesmas forças responsáveis pela opressão e pelo confinamento econômico e comercial de Cuba, estas mesmas forças deflagravam em nossa Pátria o Golpe Militar.

Agora veja, Sr. Embaixador, a diferença: enquanto os Estados Unidos da América do Norte canalizam e irrigam dinheiro em todos os países do mundo, onde eles têm interesses econômicos e políticos, noutros países eles bloqueiam, pelo mesmo jogo de interesses econômicos e políticos; uns são beneficiados, outros são prejudicados. Este é o caso de Cuba. Esta possibilidade de confinar Cuba nasceu de intervenções dos Estados Unidos, da CIA, do Pentágono, do seu militarismo, enfim, mas não é primeiro o militarismo que chega como poder invasor, quem chega antes como poder invasor para garantir a ação do militarismo é o dólar. Quando derrubaram o sistema democrático constitucional do Salvador Allende, no Chile, foram os dólares da CIA que garantiam uma greve dos transportadores e através dela, e através da instrumentalização da greve e da manipulação política da greve derrubaram o Presidente Salvador Allende, que não se entregou e que morreu pelo seu ideal.

Aqui no Brasil não foi diferente quando os americanos estavam intervindo, escancaradamente e abertamente contra os destinos desta Nação, quando se preparava o Golpe Militar, também contra o poder constituído do Presidente João Goulart, aqui nas nossas costas estava a força-tarefa americana comandada pelo porta-aviões “Forrestal” com dinheiro, armas e combustíveis, suficientes para garantir a deflagração do golpe que haveria de derrubar a liberdade deste País. Por isso que para nós brasileiros é sumamente confortante relembrar o episódio e o exemplo cubano. Eram inicialmente 12 heróis, muitos heróis, sobraram 12 que atravessaram o Mar das Antilhas e chegaram em Cuba. Eu sinto arrepios, porque me sinto honrado, já que dois deles eu conheci, e sentei-me à mesma mesa, ocasião em que confabulamos, que foi o Comandante Che Guevara. Fidel Castro, Che Guevara estavam juntos, eu agora assinalei alguns nomes, não lembro de todos eles, Pedro Miret, Camilo Cienfuego, Abe1 Santa Maria, Raul Castro, “Che” Guevara, Fidel Castro e tantos outros que fizeram em Cuba, como Sepé Tiaraju fez no Brasil: “este território é sagrado e é nosso e haveremos de declarar em seu solo a nossa soberania; a soberania do nosso povo”.

Eu digo tudo isso porque em matéria econômico-social é evidente que qualquer parte do mundo atravessa fenomenais e espantosas crises sócio-econômicas, com exceção daqueles países que geram essas crises que é trilateral, composta pela América do Norte, Europa e Japão.

A nossa miséria é a resposta da riqueza deles. Bolívar sempre dizia: “América, terra rica e povo pobre; Europa, terra pobre e povo rico”. Mas por que ocorre isso? Porque aparentemente o socialismo está recuando. Esse recuo, Sr. Embaixador, não é um recuo ideológico, não é um recuo de posição, de ideal e de vontade de declarar uma soberania; o recuo é por causa da ventania que está ocorrendo de novo, e que assume uma outra característica que é o grande avanço tecnológico. É o grande avanço eletrônico que separou nações poderosas e tremendamente ricas de um lado; e, nações que vivem na miséria de outro. Uma miséria, Sr. Embaixador, que nos envergonha porque no nosso País estamos matando crianças às pencas todos os dias! Além das mais de setecentas mil que devem morrer, por ano, de fome e de subnutrição! E, eu que estive duas vezes em Cuba, apesar de todos os problemas, eu posso assegurar que não existe país na América Latina e, possivelmente, não exista país no mundo que tenha garantido ao seu povo o alto nível educacional e o alto nível sanitário. Cuba nesse terreno é o exemplo para o Brasil e para o mundo, principalmente, para a América Latina. Sr. Embaixador, haverão de soprar os ventos da liberdade; haverá de ocorrer o desequilíbrio contra aqueles que comandam o mundo hoje. A gloriosa e trepidante Roma não poderia ser eternamente a policial do mundo e, a Wall-Street também não haverá de estender essa supremacia econômica e financeira por todos os tempos. Haverá o dia em que os ventos da liberdade haverão de soprar, de novo, inspirados pelo exemplo do farol da América e pelo exemplo dos líderes cubanos que enfrentaram tudo para conseguir que se declarasse naquele solo um povo livre e um povo soberano. Muito obrigado e um abraço a V. Exª.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Airto Ferronato, pelo PMDB.

 

O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ilustre Embaixador, aqui presente, nosso amigo Takeda, Presidente da Associação José Martí, senhoras e senhores. Eu tenho uma visão nítida da situação por que passa o nosso País, o Brasil. E, também, se busca modestamente um comparativo, em primeiríssimo lugar, da qualidade de vida do nosso povo, do Brasil com os demais povos da América Latina e do nosso mundo. E acredito firmemente que o Brasil passa pelo último momento de uma extraordinária crise de dificuldades fantásticas. E isto não pode continuar da forma como está, porque a elite dominante deste País e, especialmente, a elite econômica se conscientiza de que há a necessidade imediata de se propiciar melhores dias a nossa sociedade no seu todo, ou estas pessoas sofridas deste País haverão de tomar por sua conta e risco, posições fortes no sentido de se inverter o atual quadro. Não é admissível que se tenha neste País características da América Latina, praticamente, tudo se seguindo aqui, na linha de posição do Ver. Omar Ferri: nós que tradicionalmente produzimos, praticamente morremos de fome, para produzir para países do Primeiro Mundo. Então, temos esta característica, ou seja, enquanto nós empobrecemos porque produzimos, países exploradores enriquecem porque consomem. E acredito que este quadro, por si só, deverá mudar, de uma forma ou de outra.

E na nossa avaliação, até pela admiração que tenho por Cuba, eu sempre imagino que Cuba agiu de forma acertada quando adotou aquele sistema e implantou naquele país a Revolução que buscou melhores dias para sua população. E a história demonstrou o acerto daqueles atos, porque nós americanos, brasileiros temos que buscar também, seja lá o que for para se evitar, por exemplo, isto que acredito que basta, pois mais de 20 milhões de crianças passam fome, neste País, não tem um lar, nenhuma expectativa de vida. Isto por si só já é o retrato de calamidade pública por que passa nosso País. E, temos que aprender muito com Cuba no sentido de se buscar através da nossa história, nossas ações, meios, caminhos que podem ser diferentes, mas que visem atingir o mesmo fim, ou seja: educação, alimentação, moradia, trabalho, salário, emprego para nossa população.

Em nome da Bancada do PMDB quero aproveitar esta oportunidade para externar o nosso abraço ao governo de Cuba, e especialmente a todo o povo cubano. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clovis Ilgenfritz.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, Ver. Antonio Hohlfeldt, Exmo Sr. Jorge Bolaños, Embaixador, meu amigo arquiteto Takeda, companheiros Vereadores, companheiros presentes, hoje, em nossa platéia, é uma satisfação, uma honra para nós saudar aqui a presença desse ilustre companheiro cubano, que, hoje, nos visita. Nós acompanhamos a história de Cuba com muita atenção desde a nossa juventude; antes da Revolução as barbáries cometidas pelo ditador anterior, as lutas iniciais de Fidel Castro, tendo depois a participação de Che Guevara e outros; o assalto a Moncada, a autodefesa de Fidel Castro, numa bela página de direito, onde ele diz que a história me absolverá; acompanhamos de perto o processo inicial da Revolução, a chegada em Havana dos revolucionários, a participação da população, do exército do Ditador Batista, que era mandado de trem para lutar contra os revolucionários na Sierra Maestra e chegando lá, na sua maioria, entregavam as armas e se juntavam à luta de Fidel Castro pela defesa da soberania e da liberdade de um povo, de uma ilha no centro americano que estava sob pressão permanente do capitalismo, imperialismo e teve a coragem de dizer que iria mudar e que estava mudando.

A luta dos estudantes, tão importante, o famoso Presidente da União dos Estudantes Echeverria, se não me engano, acompanhamos os primeiros passos, a euforia, as lutas pela realização num tempo só de tudo que tinha sido perdido e que José Martí vinha dizendo há muitos anos. Séculos de dominação e os cubanos alfabetizaram em poucos meses toda a população, os estudantes foram aprender o que era a vida do campo indo para o campo, alfabetizar os seus companheiros do campo e assim todos os passos, inclusive o ataque covarde, o grande País do ocidente, o Guardião da Liberdade e da Democracia, que se autodetermina defensor desses conceitos, os americanos que tentaram invadir Cuba e foram rechaçados por um, dois, três milhões de voluntários cubanos que tinham e até hoje têm em suas casas as armas para defender-se do agressor que está a 90 milhas, permanentemente, ameaçando uma população inteira que resolveu ser livre, que resolveu ter dignidade, acompanhamos a derrota dos americanos. Não sei se a derrota dos americanos em Praia Riron foi maior ou menor do que a derrota dos americanos no Vietnã, mas são páginas da história que os cubanos têm muito de se orgulhar e nós, brasileiros, em 1963 estivemos lá, em Cuba, num Congresso Internacional de Arquitetos, precedido por um congresso de estudantes, onde conhecemos pessoalmente as figuras carismáticas, legendárias, de Che Guevara, de Osmani  Cienfuego; o próprio Fidel Castro, de Dórticos, conversamos com eles como se nós pela primeira vez tivéssemos conversado com alguém importante neste mundo, porque nós não tínhamos acesso aos nossos governantes, e lá andávamos na rua com eles caminhando e conversando. Isso para nós era algo revolucionário em si. O Fidel, que fez a Revolução, andava na rua sem proteção e ainda anda, sem ninguém protegendo mesmo com a ameaça da contra-Revolução permanente.

Então, eu queria, Sr. Embaixador, em nome do Ver. José Valdir, do Partido dos Trabalhadores; do Ver. Adroaldo Corrêa, outro companheiro do Partido; o Ver. Antonio Hohlfeldt, Presidente da Casa, que é também do nosso Partido; do Ver. Décio Schauren, que estava até há pouco aqui e de outros companheiros de Bancada, eu queria dizer a V.Sª que nós continuamos firmes aqui, acreditando que é possível, porque Cuba nos ensinou, e em 1963, quando assistimos ao Quarto Aniversário da CDR, na Praça da Revolução, com mais de 600 mil pessoas, nós assistimos também um coro de 600 mil pessoas dizendo: "Fidel estejas seguro, a yankee dale duro". E ele continua seguro, a yankee dando duro, e nós também porque não haveremos de nos entregar às mazelas do imperialismo e da dominação. E é importante este momento histórico em que a história dos países do leste-europeu estão passando por uma profunda reflexão e modificação. É importante a posição de Cuba, firme, assumindo a sua própria autodeterminação e a sua liberdade com seus conceitos. Nós vez que outra achamos que poderia acontecer isto e aquilo em Cuba, mas nós achamos, quem tem que fazer e tem que achar é o povo cubano e nós temos que respeitar. Assim como nós queremos o respeito para o povo brasileiro e para qualquer povo em qualquer parte do mundo.

Então, Sr. Embaixador, em nome da Bancada do PT, o tempo não me permite que continue mais, queria dizer que nós estamos solidários na luta contra o bloqueio econômico, na luta contra aqueles que querem construir uma das páginas mais brilhantes, e quem sabe a maior página da história deste século que é a Ilha de Cuba tornar-se livre e autodeterminar-se pelos caminhos da liberdade da democracia e da dignificação do ser humano. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ilustre Embaixador que nos visita e seus acompanhantes. Antes de mais nada, devo dizer que tenho profundo orgulho de ser brasileiro, tenho pelo meu País o mais profundo amor e respeito. Não tenho nenhuma condição para queixar-me dele, é para mim o maior país do mundo.

Sr. Embaixador eu tenho uma história um pouco diferente da sua. O senhor jogava  beisebol com mais 17 jovens e o senhor é o único que teve projeção dentre os 18. Pois eu sou um dos que olhavam os outros jogar futebol, porque não tinha chuteiras, porque tinha sapatos furados, sou, hoje, Engenheiro, sou Vereador pela quinta vez, fui Secretário nesta Cidade seis vezes, fui Prefeito desta Cidade e nunca me curvei ante ninguém. Nunca. Isto faz com que eu tenha orgulho dessa terra que me deu estas possibilidades, e que a ninguém é negada. E me entristece quando vejo meus conterrâneos, que sabem o que é ser livre, porque neste País em qualquer tribuna, em qualquer esquina o cidadão levanta e agride o Presidente da República, eu queria ver noutros países fazer a mesma coisa, falar mal do Presidente, falar mal do Chefe de Polícia, falar mal do Ministro, falar mal do General, aqui nessa tribuna todos os dias, Sr. Embaixador, se agride o Governo constituído. E o País mesmo assim continua crescendo, apesar disso continua crescendo. Porque ser bom brasileiro não é elogiar apenas os que lá estão pretendendo nos servir de exemplo, não. Ser brasileiro, ser patriota é amar a sua terra, é fazer o melhor de si, para que o nosso País cresça, não dizer que a miséria está instalada, quando não faço nada para melhorar o meu irmão que está na miséria, não é este o caminho. É por isso que eu realmente fico revoltado, mas tenho profundo respeito por Cuba, conheço algumas coisas sobre Cuba, não a visitei, não estou pretendendo visitá-la também, respeito profundamente aqueles povos que se autodeterminam, defendem a sua liberdade intransigentemente, e como V. Exª diz: o País que era o cordeiro, hoje é o lobo, porque os seus filhos assim fizeram, não o fizeram apenas criticando os que estão mais longe ou culpando quem quer que seja, fizeram trabalhando. Não estou dizendo que aceito a ideologia do povo de V. Exª, do Governo de V. Exª, não estou dizendo isto, mas nessa tribuna muitas vezes eu disse e repito sempre, não tenho discriminação para ninguém, nem ideológica, nem religiosa, nem política, cada um pense como quiser. Para mim só existem duas coisas: o certo e o errado. E o que eu desejo, em nome do meu Partido, em nome da minha Bancada, é que Cuba possa continuar sendo lobo, forte, sã, bem disposta, cuidando dos seus filhos, baixando a mortalidade infantil, dos 10, que é muito baixo, que é um índice muito maravilhoso, até se pode assim dizer, mas que os brasileiros têm o mesmo espírito cubano de dizer que o maior país do mundo - como V. Exª disse, Embaixador de um país pequeno e grande povo - é o Brasil, e não tem nenhum outro que se iguale a ele, porque de outra forma não me entendo.

Por isso, com o profundo respeito que merece, por representar o Governo Cubano em nossa terra, saiba que, aqui no Brasil, tem um povo que ama o seu País, acima de qualquer coisa. Receba os nossos cumprimentos. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para falar em nome do Partido Comunista Brasileiro, tem a palavra o Ver. Lauro Hagemann.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Sr. Embaixador, prezados companheiros. Os comunistas, apesar de todas as adversidades por que passaram, por que passam, continuam otimistas, e senti esse otimismo nas palavras do Sr. Embaixador, ao se pronunciar dessa tribuna. Apesar de todas as vicissitudes por que passa Cuba, e os países da Europa do Leste, e em outras partes do mundo em relação ao socialismo, que está se revigorando, se repensando para se reconstruir, essa idéia generosa não desertou das nossas mentes, ela continua cada vez mais viva. E de certa forma eu senti um certo ciúme - "zelos", em espanhol - quando V. Exª disse o que Cuba conseguiu, e que nós estamos tentando conseguir. A nossa mortalidade infantil é muito alta. Os nossos índices de desemprego são muito altos. A recessão atinge o Brasil de forma contundente. Há um decréscimo no processo econômico. A roda da economia parece andar para trás, e não para a frente. A nossa dívida externa continua aumentando. É, talvez, das maiores do mundo, pelo menos na América Latina é a maior. Não há previsão de quando conseguiremos pagá-la. E por isso nós ficamos numa posição de expectativa, de relativa ciumeira em relação a esse processo que se estabeleceu em Cuba, e que V. Exª diz para todos o que está sendo realizado lá, apesar das vicissitudes. Nós, de nossa parte, nos solidarizamos com Cuba, sempre estivemos solidários e esperamos poder contribuir, mesmo na nossa condição atual, para que essa situação que hoje vive Cuba possa ser superada, através do relacionamento internacional, através das pressões que possam ser exercidas junto àqueles países que hoje estão se comportando de forma desumana. Porque o que acontece com Cuba não é um processo natural. A nenhum povo do mundo se podem impor condições tão draconianas, porque isso significa tentar cortar a própria existência humana. Existem transações que não podem ser suprimidas, remédios, alimentos, gêneros especiais, materiais, que devem circular através do mundo independentemente dos procedimentos ideológicos, da posição de governo, porque isso é uma condição humana para a continuidade da espécie.

Gostaria que V. Exª, que é representante de Cuba no Brasil, mas não são todos os dias que V. Exª pode vir ao Rio Grande do Sul, que fica aqui, no extremo meridional do País e que agora nós estamo-nos revolvendo, quatro países do Cone Sul, no que se chama de Mercosul, é uma nova perspectiva que se abre, mas que nós também estamos discutindo muito acirradamente, porque pretendemos que a integração se dê no verdadeiro significado da palavra e não por partes, procure se inteirar, nessa sua visita, e da forma que for mais pertinente nós poderemos lhe alcançar alguns materiais, porque nós mesmos ainda estamos imprecisos em relação às finalidades deste mercado comum, para que, através dele, quem sabe, se possa ajudar. Porque o que nos compete, hoje, não é fazer discursos laudatórios sobre o que Cuba já alcançou, sobre as nossas mazelas, mas daquilo que nos compete fazer para que saiamos das mazelas e para que Cuba supere as suas dificuldades. Este é o nosso trabalho e este deve ser o nosso objetivo. No mais, continuamos aqui como sempre. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Companheiro Embaixador Jorge Bolaños, ao encerrarmos este momento da Sessão, mais uma vez expressamos às boas vindas a V. Exª e queremos, mais uma vez, ratificar o nosso respeito a todas as conquistas que a Revolução Cubana realizou e, das quais, me permito citar uma experiência concreta, logo após a redemocratização brasileira, em que agências de viagens do Brasil se especializaram no fretamento de viagens a Cuba, com doentes brasileiros que sofriam de vitiligo. Não se ia fazer turismo, não se ia passear, ia-se buscar a cura, o remédio para uma doença. Acho que esse é um símbolo. Permito-me lembrar, por outro lado, que se o governo norte-americano tem sido cruel em relação ao povo cubano, certamente o povo cubano tem também no povo americano, boa parte dele, aliados na luta e na defesa do reconhecimento das conquistas alcançadas por Cuba. Como, basicamente, acreditamos nos povos, acho que um dia, bem ou mal, o povo cubano vai também conseguir fazer essa aproximação, apesar de um governo eventual que passa, enquanto o povo, evidentemente, perdura.

Com essas colocações feitas, aproveitamos o ensejo para oferecer-lhe uma pequena lembrança da nossa Casa, como símbolo das nossas boas-vindas, são as armas da Cidade, aliás, uma idéia do Ver. João Dib, o que sempre fazemos questão de frisar.

Suspendemos os trabalhos para as nossas despedidas.

 

(Suspende-se os trabalhos às 15h20min.)

 

O SR. PRESIDENTE (às 15h22min): Estão reabertos os trabalhos da presente Sessão.

Srs. Vereadores, estamos recebendo a visita do Sr. Secretário Municipal da Fazenda, Sr. João Verle, a fim de prestar esclarecimentos sobre a proposta do reajuste do IPTU para o exercício de 1992, encaminhada através do PLCE nº 010/91 e a Proposta Orçamentária, a requerimento do Ver. Isaac Ainhorn. (Proc. nº 02566/91)

Apregoamos Requerimento de autoria do Ver. José Valdir, que requer a renovação de votação do Proc. nº 2371/91, referente à abertura do comércio aos domingos, votado na tarde de ontem, dia 20 de novembro, nesta Casa, quando as razões serão apresentadas na tribuna quando da votação do presente Requerimento.

Srs. Vereadores, conforme determina o Regimento Interno, nós, imediatamente, passaremos a ouvir o Sr. Secretário da Fazenda, que responderá aos quesitos apresentados pelo Ver. Isaac Ainhorn, após o que passaremos aos questionamentos por parte dos Srs. Vereadores, dando-se sempre a preferência ao Vereador requerente, no caso, o Ver. Isaac Ainhorn.

Queremos apenas alertar aos Srs. Vereadores de que a Sessão deverá se encerrar às 16h15min, impreterivelmente, tendo em vista haver outros compromissos na Casa, inclusive a Sessão Solene que se segue, de maneira que também pediríamos a colaboração do Sr. Secretário, que, apesar de dispor formalmente de uma hora, se o Sr. Secretário pudesse objetivamente colocar as respostas e depois passarmos, então, dando a preferência ao diálogo com os Vereadores, evidentemente seria importante.

 

O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, adotando a mesma sistemática que V. Exª já tinha proposto em relação à presença nesta Casa do Sr. Secretário Municipal dos Transportes, e tendo em vista que neste momento são 15h25min, e que nós teríamos apenas 45 minutos para tratarmos de um assunto da maior relevância na Cidade de Porto Alegre, face à exigüidade do tempo e face à inexistência de “quorum” regimental, indago a V. Exª se seria possível consultar o Sr. Secretário Municipal da Fazenda para, de comum acordo, designarmos uma nova data.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Isaac Ainhorn, a Mesa corrige V. Exª, que a Mesa jamais fez quaisquer propostas deste tipo, em qualquer momento, o que a Mesa propôs cumprindo o Regimento Interno, na vez anterior da visita do Secretário dos Transportes, é que não haveria “quorum” regimental para a Sessão. A autoridade cumpriu o que foi requerido, em última análise, o Plenário não se interessou pela presença da autoridade e houve a contraproposta do Ver. Elói Guimarães para que se fizesse, de qualquer forma, o diálogo, na medida em que se aproveitaria a ocasião. A Mesa, evidentemente, não vai responder pelo Sr. Secretário, a Mesa pode simplesmente declarar que está cumprida a formalidade, deixar os quesitos com os Vereadores e encerrará a Sessão e votar outra vez o Requerimento.

 

O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Eu formulo um novo questionamento. Tendo em vista que nós teríamos rigorosamente 45 minutos para debater um assunto tão relevante, e tendo em vista que num primeiro momento o Sr. Secretário deveria fazer a sua exposição, eu entendo que pode haver um prejuízo à Casa em relação ao seu pronunciamento e ao debate que enseja a presença do Sr. Secretário Municipal da Fazenda aqui na Casa.

Então, eu, preliminarmente, consultei V. Exª se era possível num primeiro momento, face até a inexistência de "quorum", que V. Exª consultasse o Sr. Secretário, no sentido de ver se seria possível designarmos uma nova data, tendo em vista que há uma viagem de Vereadores para a República Oriental do Uruguai, em representação desta Casa, tendo sete Srs. Vereadores ausentes da Cidade.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Isaac Ainhorn, a Mesa, com todo respeito, indefere o requerido por V. Exª. O Secretário está na Casa, os Vereadores não compareceram por motivos diversos. Independente de os Vereadores que viajaram, existe “quorum” suficiente para discussão. O “quórum” dos Vereadores que ficaram nesta Casa, são 27.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Indago se estamos em Sessão Ordinária, Sr.Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE: Estamos. E, se V. Exª requerer verificação de “quórum”, encerraremos a Sessão. Mas considero, em respeito ao Secretário, que foi cumprido o Requerimento.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Não estou questionando a presença do Secretário, que está cumprindo a convocação. Estou discutindo uma questão de mérito da importância da presença do Secretário aqui, na Casa, e na ausência de “quórum” até para debater uma questão tão relevante como esta.

 

O SR. PRESIDENTE: E a Mesa, na condição de Presidência e de respeito ao Secretário, diz que acatará qualquer outro Requerimento de Convocação, mas não fará consulta de transferência de data.

 

O SR. JOSÉ VALDIR (Questão de Ordem): Os Vereadores que estão viajando podem ser substituídos?

 

O SR. PRESIDENTE: Não, Vereador, não podem ser substituídos, é representação da Casa. Não há substituição destes Vereadores.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Queria contrapor a argumentação do Ver. Isaac Ainhorn, que já está se tornando uma praxe nesta Casa de se convocar Secretários e, na hora, os próprios interessados ou não estão, ou se faz este tipo de proposta que o Vereador está fazendo, de consultar o Secretário para que venha outra hora. Ora, os Secretários são pessoas ocupadas.

 

O SR. PRESIDENTE: Vereador José Valdir, a Mesa já respondeu ao Vereador Isaac Ainhorn, agradece sua manifestação, mas, a posição da Mesa já está tomada.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente, requeiro verificação de “quorum”.

 

O SR. PRESIDENTE: Faremos, imediatamente, Ver. Omar Ferri.

 

O SR. DÉCIO SCHAUREN (Questão de Ordem): Gostaria de manifestar o meu protesto, porque isto já é a terceira vez que acontece. Em duas ocasiões anteriores, se aprovou convocação de Secretário e, em duas ocasiões, já, o próprio requerente não compareceu a Sessão. Sugiro, antes da Casa passar novo vexame, que não aprovemos mais Requerimentos deste tipo.

 

O SR. PRESIDENTE: Vereador, quem aprova ou desaprova Requerimentos é o Plenário. A Mesa não tem opinião a respeito.

 

O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente, requeiro verificação de “quorum”.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Omar Ferri, pelo Regimento Interno, a Mesa precisa primeiro atender as Questões de Ordem, o que está fazendo, logo depois fará a verificação de “quorum”.

 

O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu até gostaria que o Ver. Décio Schauren nominasse os casos de convocação de Secretários em que os próprios requerentes não compareceram, para que se fique claro, até porque eu tive oportunidade de fazer duas convocações e tenho sempre estado presente nas convocações, até para que não gerem dúvidas. Até faria, para aproveitar a presença do Secretário, um apelo ao nobre Ver. Omar Ferri, no sentido de que retirasse o seu requerimento de verificação de "quorum".

 

O SR. PRESIDENTE: Nobre Ver. Isaac Ainhorn, a Mesa consultou o Sr. Secretário e o Secretário Verle fez a seguinte proposta, tentando equilibrar as questões. Nós não temos "quorum" regimental, faremos a chamada normalmente, não temos o "quorum" regimental para manter a Sessão, e o Secretário se propõe, de qualquer maneira, posteriormente, acertar um outro momento em que, a convite da Casa, então, compareceria ao Plenário e buscaria criar o diálogo.

Ver. Clovis Ilgenfritz, eu solicitaria que V. Exª assumisse a Secretaria para a verificação de "quorum".

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, antes eu queria uma Questão de Ordem, por favor! Apenas para dizer ao Sr. Secretário o nosso agradecimento pela intenção de voltar aqui porque nós entendemos que a sua presença, aqui, para esclarecer os Vereadores nesse momento de votação de Orçamento, IPTU, é muito importante e a sua atitude dignifica o Governo Municipal.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa iniciará a verificação de "quorum", se houver o "quorum" iniciará a Sessão e alerta os Srs. Vereadores, no momento em que não houver "quorum", a Sessão será imediatamente encerrada.

 

O SR. SECRETÁRIO: (Procede à chamada nominal para verificação de "quorum".) Há “quorum, Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE: Sr. Secretário, a Mesa orienta no sentido de que os Vereadores Artur Zanella, Elói Guimarães, Dilamar Machado, Letícia Arruda, Leão de Medeiros, Vicente Dutra e Antônio Losada estão em representação da Casa, portanto, não deve ser registrada falta aos mesmos, no dia de hoje.

 

O SR. EDI MORELLI (Questão de Ordem): Apenas para esclarecer este Vereador, os Vereadores citados por V. Sª estão representando a Casa onde?

 

O SR. PRESIDENTE: No Congresso de Vereadores do Cone-Sul, na cidade de Maldonado, Uruguai, conforme foi amplamente divulgado entre as lideranças para indicação dos que, eventualmente, gostariam de participar deste encontro.

 

O SR. ANTONIO DIB: Presidente, apenas para um esclarecimento: Ver. Antônio Losada está representando a Câmara?

 

O SR. PRESIDENTE: Como titular de mandato, neste momento está, Vereador. A Mesa teve imenso cuidado nesta decisão. Como Vereador-titular ele está na representação.

Ver. João Dib, V. Exª votou a licença do Ver. Alvarenga na manhã de ontem e igualmente foi cientificado da impossibilidade de o Ver. Heriberto Back assumir o seu mandato.

 

O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, eu agradeço o grande tribuno Ferri que acaba de me informar que a Câmara está certa mandando um suplente para lá. Tudo bem.

 

O SR. EDI MORELLI (Questão de Ordem): Sr. Presidente, os Vereadores respondem a chamada e saem do Plenário, acho que não há "quorum".

 

O SR. PRESIDENTE: É o que a Mesa ia decidir, Ver. Edi Morelli.

Nós temos 8 Vereadores, neste momento, no Plenário. Realmente, assumo na condição de Presidente da Casa, a absoluta responsabilidade de encerrar os trabalhos, agradecendo a presença do Sr. Secretário.

Encerramos por falta de "quorum". Ver. Isaac Ainhorn, dentro da proposta do Sr. Secretário, eu gostaria que nós conversássemos aqui, acertar uma outra visita do Secretário que se dispõe, não na condição, Vereador, quero deixar bem claro o registro que faço neste processo é que esse processo foi atendido.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Não tenho dúvida nenhuma, até houve uma morosidade muito grande da Mesa, no meu entender, de encaminhar a convocação, data vênia, da diligência normal que tem tido o Sr. Presidente. Agora ele, indiscutivelmente, cumpriu o mandamento de aqui comparecer em dia e hora designados pela Mesa. Lamento profundamente a ausência de "quorum", acho importante, para que não haja prejuízo de sua presença na Casa, que se definisse uma nova data o mais rápido possível para estar presente.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Isaac Ainhorn, se V. Exª tiver qualquer crítica à Mesa por atraso, eu gostaria de que V. Exª formulasse, pois a Mesa terá prazer em responder.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Já formulei Vereador, com todo o respeito que eu tenho ao trabalho de V. Exª. V. Exª sabe, veja a data do Projeto em que foi requerida a convocação.

 

O SR. PRESIDENTE:  Nobre Vereador, a Mesa objetiva e publicamente lhe responde de que aprovado no dia 04 de outubro os contatos foram feitos de imediato, a partir do dia 08 de outubro, quando V. Exª não havia incluído os quesitos de indagação, que o fez a partir de então, devolvendo o Processo a partir do dia 15 de outubro. Quer dizer, a partir desta data a Mesa teve, portanto, as condições de fazer a convocação, teve uma confirmação inicial no dia 12 de novembro quando houve problemas na Casa que nos levaram à modificação da data e, a partir daí, o Sr. Secretário tinha já uma marcação na Comissão de Finanças e Orçamento, a pedido da Casa, em vistas de uma Sessão Solene prevista pelo Ver. Cyro Martini que havia sido marcada para o dia 19 de novembro. Pedimos, então, para transcorrer no dia 21, porque atrapalharia o depoimento e chegamos ao dia 21.

Apenas para ficar bem claro que não houve morosidade da Mesa, houve, sim, uma série de injunções que determinaram esse atraso.

 

O SR. EDI MORELLI: Sr. Presidente, uma colocação muito pessoal deste Vereador, divergências políticas existem, pensamentos adversos existem, mas não pode existir falta de respeito pela pessoa. Eu acho que está havendo uma falta de respeito pela pessoa do Secretário. É opinião desse Vereador.

 

O SR. PRESIDENTE: Registro, Vereador, e é por isso que estamos encerrando esta Sessão.

 

O SR. JOÃO DIB: Poderia fazer um pedido ao Secretário da Fazenda para que ele não tenha a viagem totalmente perdida? Eu gostaria, Sr. Secretário, que cada um dos Vereadores recebesse a cópia dos valores do IPTU para o próximo ano. Cada um na sua residência é claro. Vou mandar o meu endereço, se não, vão mandar para a Ramiro Barcelos, e eu não moro mais lá.

 

O SR. PRESIDENTE: Fica o registro, Ver. João Dib. O Secretário pede que se transmita aos Srs. Vereadores, que tenham os seus registros e endereços, quem tiver mudado ou tiver um novo endereço, que esteja no registro equivocado, por favor confirmem o seu endereço e o Secretário se dispõe a tomar essa providência de imediato.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, eu gostaria que, embora eu continuasse mantendo a minha posição e respeitando democraticamente a posição de V. Exª, entendo que houve uma morosidade, mas isso para mim já é ponto superado. Gostaria de que V. Exª, consultando o Sr. Secretário, vencido já esse processo, duas coisas.

Primeiro, se ele tem resposta escrita aos quesitos que formulei. Se tem, se esse material poderia ser distribuído.

Em segundo lugar, a possibilidade de marcar para o início da próxima semana a vinda do Sr. Secretário ao Plenário da Casa, a convite, no período das Comunicações.

 

O SR. PRESIDENTE: O Secretário não dispõe por escrito a resposta aos quesitos. Mas, até a próxima segunda-feira, terá condições.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Seria possível a vinda do Sr. Secretário na próxima terça-feira?

 

O SR. PRESIDENTE: É provável que tenhamos Sessões Extraordinárias na próxima semana. O pedido de V. Exª fica encaminhado. Temos ainda dezenas de Sessões Solenes e Especiais. Teremos que fazer os acertos necessários. A Mesa não gostaria de antecipar qualquer coisa e deixar todos na expectativa. A Mesa vai, agora, examinar a matéria, discutir com os Vereadores e tomará a decisão o mais breve possível.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h44min.)

 

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